Blog dedicado a Alejandro Jodorowsky com traduções de seus textos.

sábado, 31 de janeiro de 2009

Pedras do caminho 21-25

21.
O que significa o eterno
sem teu olhar fugaz?
Tal como és
sem mais nem menos

22.
Árvore de sombras
nem "eu" nem "meu"
Silêncio doloroso
que chamo Poesia

23.
A morte não te eliminou
te trasnformou
A dor diminui
o amor cresce

24.
Se falo
crio futuros
Se calo
o presente é eterno

25.
Frente a frente
você e eu
como para sempre

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Cabaré Místico


Quando Jodorowsky compreendeu que "não podia mudar o mundo, mas que podia começar a mudá-l0" ele resolveu criar um encontro semanal gratuito num dojo (lugar sagrado para treinamento de Karate), de um amigo seu. Estava criado o Cabaré Místico, que se mantém até hoje, agora num espaço maior, pois a procura é crescente pelo seu "serviço individual de saúde pública".
Selecionei aqui alguns trechos dessa obra, estou no começo, mas recomendo a leitura, para os que se arriscarem em espanhol, clique aqui para ir ao site onde é possível comprar os seus livros.

"Um símbolo não concede uma mensagem precisa, atua como um espelho que reflete o nível de Consciência de quem o busca. No cristianismo não há uma só cruz, senão infinitas: para uns é um objeto de tortura, para outros é a intercessão do espaço e do tempo, a árvore da vida, o signo maior, etc. Os textos sagrados podem originar múltiplos comentários; isto sabem muito bem os cabalistas, que extraem da Bíblia caprichosas revelações. Várias gerações de psicanalistas tem encontrado ensinamentos nos sonhos e nos contos de fadas. Então, digo que não há, em si, textos sagrados; o sagrado é outorgado pelo leitor. A verdade não está em um livro senão no espírito de quem, usando como apoio o símbolo, descobre nas profundezas do seu ser esse mistério essencial que é seu genuíno Mestre". p. 11

"O MAGO QUE FILMA"

CartaCapital: Seus filmes foram impedidos de circular muito tempo por causa de uma briga com o produtor. Incomoda-o que só agora seu trabalho volte a ser reconhecido?
Alejandro Jodorowsky: Não me dediquei só ao cinema, os caminhos da arte são muitos. Quando se acredita no que se faz, o tempo não conta, nem a morte. Uma paciência infinita passa a habitá-lo. Não me doeu ser ignorado, não me alegra ser reconhecido.
CC: El Topo é tido como um precursor do cinema de baixo orçamento. Diz-se que abriu caminho para nomes como o do cineasta David Lynch. Concorda com isso ou lhe parece soberba?
AJ: Concordo. El Topo inaugurou uma forma de cine independente que se chama midnight movies. Isto está inscrito na história do cinema. Respeite-me, por favor.
CC: É verdade que recomenda estar sob o efeito de alguma droga para assistir a El Topo?
AJ: Eu não me drogo nem recomendo drogar-se. O que aconteceu nos anos 60 é que todos os jovens americanos fumavam maconha. À meia-noite, quando exibiam meu filme no Teatro Elgin, a sala estava submersa em uma nuvem de fumaça de marijuana. Quando estreou A Montanha Sagrada (1973), não havia fumaça, mas não porque não estivssem drogados, e sim porque então consumiam cocaína e LSD.
CC: Quais foram as suas maiores influências?
AJ: Sou um grande espectador de cinema. Vejo toda noite pelo menos um filme e, tem sido assim durante quase meio século. Admiro não só Federico Fellini, Luis Buñuel e Glauber Rocha, como também muitos outros, ocidentais e orientais. Mas nenhum deles me influenciou. Quis ser diferente de todos e fui.
CC: O senhor ainda usa o método Arica para preparar os atores, com ioga, zen-budismo, tarô, I Ching e drogas alucinógenas? Ou isso faz parte da sua lenda?
AJ: Faz parte da lenda. Houve uma época em que acreditei vencer o ego dos atores. À custa de grandes problemas, me dei conta de que o ego de um ator, além de cheirar mal, é indestrutível. Não há método, por mais sábio que seja, que possa arrancar os atores de seu umbigo.
CC: O senhor diz que seus filmes falam de um inconsciente a outro. Como isso é possível?
AJ: É algo que se realiza para lá do intelecto. Não se trata de palavras, mas de sensações inefáveis. Como quer que explique?
CC: Li em um artigo chileno que alguns o consideram um mestre e outros um louco de dar nó... E o senhor, que pensa de si mesmo?
AJ: Para que Jodorowsky pensasse algo sobre Jodorowsky teria de dividir-se em dois: o que pensa e o que é pensado. Na verdade, sinto que sou um. Portanto, não sei quem sou.
CC: Como anda seu novo filme, King Shot (previsto para 2009)? Do que se trata?
AJ: Quatro produtores, um canadense, um espanhol, um francês e um sérvio, me pagaram um dólar pela preferência, até setembro, de produzir King Shot. É um spaghetti-gângster metafísico. O cinema vive de projetos que nunca se realizam, mas também existem os milagres.
CC: Do que vive o senhor? Dos quadrinhos, livros, filmes ou das conferências que faz sobre psicomagia e criatividade?
AJ: Não seja indiscreta. Não meta o nariz nos meus bolsos.
CC: Que valor o senhor dá ao dinheiro?
AJ: Muito menos do que a senhora dá a ele.
CC: E a política, lhe interessa?
AJ: Nunca acreditei nas revoluções políticas, sempre nas re-evoluções poéticas.
CC: A psicomagia é a sério ou é uma brincadeira?
AJ: Não banque a jornalista cínica. A senhora sabe muito bem que a psicomagia é uma técnica terapêutica que curou, grátis, uma grande quantidade de pessoas. Está me confundindo com um farsante? Escreveria livros, traduzidos em vários idiomas, só para brincar? Não fique chateada, mas devo dizer-lhe que, a propósito das coisas mais sérias e honradas, as crianças e os ignorantes riem.
CC: Ainda faz cirurgias psicoxamânicas?
AJ: Em muito poucas ocasiões. Agora quem as faz é meu filho, Cristóbal, que acaba de publicar um livro, O Colar do Tigre, narrando essas experiências incríveis.
CC: No documentário feito sobre o quadrinhista Moebius (Moebius Redux), o senhor diz que Stan Lee, criador do Homem-Aranha, é apenas um comerciante, e que os Estados Unidos não o interessam em nada. Nem a geração beatnik?
AJ: Os poetas beatniks foram interessantes por ser os primeiros a sair do armário e proclamar sua homossexualidade. Atualmente, essa poesia está caduca pelo excesso de conteúdo político. Desgraçadamente, a hipócrita economia norte-americana converteu-se no câncer do planeta.
CC: O senhor está bem conservado aos 78 anos, parece mais jovem. Qual é o segredo?
AJ: Confesso que, em fevereiro, vou fazer 79... O segredo é não se aferrar a hábitos, a dependências ou a idéias. Ser um aluno constante, aprendendo sem cessar. E, sobretudo, desenvolver a atenção. É ali, onde centramos a antenção, que nascem o amor e a magia, ou seja, a energia vital.

"De Paris, Jodorowsky falou por e-mail a CartaCapital" edição 471 de 17 de novembro de 2007 por Cynara Menezes

domingo, 25 de janeiro de 2009

Pedras do Caminho 16-20

16.
Tanto é o que é
como o que não é
Não há onde não estas

17.
Vida após vida
avanço até minha origem
Minha pátria são meus sapatos

18.
Não estou vou
No entanto
não vou estou

19.
Minha consciência
vaga-lume
na escuridão infinita

20.
Se não me amas
não é meu problema
É teu problema

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Pedras do Caminho 11-15

11.
Enquanto te acaricio
te vejo envelhecer
Amo as duas
a ti e a tua morte

12.
Se mudas
o mundo muda
Sem ti é um olho vazio

13.
Cada noite rezo
para conseguir a força
de parar de rezar

14.
Deixa que eu me dissolva em sua memória
para adoçá-la com meu esquecimento

15.
Não quero que me ames
quero que ames
Os incêndios não tem dono

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Pedras do caminho 6-10

6.
Quanto
há que desejar de ser
para ser?

7.
Se te pedem mais
teria que dar mais
e já não resta nada.

8.
Os limites
com que me vês
me permitem ver-me.

9.
Cada palavra
é um deus
quando silencio.

10.
O que te dou
me dou
o que não te dou
retiro de mim.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Pedras do caminho

Esse é o título de um livro de Alejandro, que são 201 pequenos textos (de tamanho), elaborações sobre a vida e a morte.
Publicarei aqui e espero que isso sirva como inicio de muitas reflexões.
Estarei traduzindo livremente, uma vez que essa não é minha especialidade, porém o desejo de divulgar as idéias de Jodorowsky em língua portuguesa me motiva a me arriscar nesta jornada.
Para quem quiser o original é: Jodorowsky, Alejandro. Piedras del camino. Ediciones Obelisco, Barcelona, Espanha, 2004.

Epigrafe de Ejo Takata:

"Uns vão, outros vem,
eu sou uma pedra no caminho."

1.
Quarto abandonado
casa sem dono
o vazio espreita
sob minhas palavras

2.
Como um cego
que encontrara
um tesouro no lixo
devo atravessar o inverno
3.
Sol
pouco a pouco
me dissolve
em minha sombra
4.
Não me agradeça
o que ti dei
me foi dado
somente para ti
5.
O que te digo aqui
aqui fica
Vou sem nada